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O que a Bíblia diz sobre generosidade?
A gentileza, a generosidade e o amor. De que o mundo precisa?
“Gentileza gera gentileza.” Certamente você já ouviu essa frase por aí ou até mesmo já a falou. Mas talvez não conheça a história do autor, um homem que largou a família, a casa, a pequena empresa e começou uma jornada como andarilho, se apresentando como um representante de Deus e portador de um novo tempo, até se estabelecer no Rio de Janeiro e começar a espalhar pelos viadutos a famosa frase [1].
Gentileza é uma palavra que deriva do latim gentilis, que quer dizer “da mesma família ou clã” e remete à ideia de tratar bem os outros [2]. Embora tenha virado quase um mantra na boca de tantas pessoas, o “produto” parece estar em falta na praça – basta atentarmos para as tensões e divisões que marcam os relacionamentos em nossos dias, especialmente nas redes sociais, por causa da polarização ideológica, que acaba sendo transportada para o dia a dia da vida real.
Toda gentileza é muito bem-vinda, mas enquanto a origem da palavra remete à noção de tratar bem apenas aqueles da mesma família, a generosidade convida a ir um pouco além. Generosidade é outra palavra que também tem origem latina, de uma fonte indo-europeia: gen- ou gnê-, que significa “gerar, engendrar, fazer nascer”. O dicionário diz que “é a virtude de quem compartilha por bondade. Também é sinal de abundância e fartura, de alguma coisa em grande quantidade” [3].
Na Bíblia Sagrada, aparece por três vezes a palavra generosidade e por cinco vezes a palavra generoso [4]. Na segunda carta do apóstolo Paulo aos cristãos da cidade de Corinto, por exemplo, ele escreve: “Vocês serão enriquecidos de todas as formas, para que possam ser generosos em qualquer ocasião e, por nosso intermédio, a sua generosidade resulte em ação de graças a Deus” (2 Co. 9.11). Em I Timóteo 6.17-18, há uma orientação bem específica àqueles que possuem melhores condições financeiras: “Ordene aos que são ricos no presente mundo que não sejam arrogantes, nem ponham sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Ordene-lhes que pratiquem o bem, sejam ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir.”
Se generosidade tem a ver com fazer nascer, podemos dizer que é no coração generoso o solo fértil para a solidariedade. Segundo Mário Sérgio Cortella, a solidariedade é uma recusa à solidão e é o que impede que nossa “casa comum” desabe [5]. Neste sentido, os brasileiros dão um bom exemplo de solidariedade, especialmente em situações de desastres, como no caso do rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, e mais recentemente em meio à crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus. São inúmeras as iniciativas da sociedade civil com o intuito de atender às necessidades dos mais afetados nestas situações.
O dom maior
Tomando a liberdade de parafrasear o apóstolo Paulo, podemos dizer que entre a gentileza e a generosidade existe um dom maior. Não é dirigido apenas aos da mesma família nem é praticado apenas em situações emergenciais. Não pode ser motivado por vaidade, nem pelo desejo de receber likes. É direcionado a todos, inclusive aos desafetos. Não é passageiro, é permanente: o amor. Não aquele dos filmes de Hollywood ou das músicas apaixonadas. Mas conforme o apóstolo Paulo descreve:
“Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, mas não tiver amor, nada disso me valerá. O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Co. 13.3-7).
Um importante documento para o segmento evangélico, o Compromisso da Cidade do Cabo, do Movimento de Lausanne, faz uma importante colocação e uma confissão sobre o amor cristão: “este amor bíblico abrangente deve ser a autenticação da identidade e a marca dos discípulos de Jesus. [...] Infelizmente, confessamos que muitas vezes não é assim. Por isso reafirmamos nosso compromisso de nos esforçar para viver, pensar, falar e agir de forma a expressar o que significa andar em amor – amor a Deus, amor de uns para com os outros e amor pelo mundo.” [6]
Uma vida baseada neste amor descrito por Paulo só é possível porque Deus nos amou primeiro e se entregou por nós, para nos salvar do egoísmo e das vaidades que insistem em assumir o trono de nossos corações. E porque o Espírito Santo vive em nós podemos e temos a responsabilidade de fazer fluir no mundo o amor ao próximo. Para isso, é preciso um exercício constante de renúncia durante a peregrinação com Jesus, pois “qualquer de vocês que não renunciar a tudo o que possui não pode ser meu discípulo” (Lc. 14.33).
Uma citação de John Wesley diz:
““Ganhe tudo o que você puder […] economize tudo o que puder […] oferte tudo o que puder.”
O fato é que aquilo que você está disposto a renunciar e a forma como administra ou distribui os recursos que Deus deposita em suas mãos revelam suas prioridades e quem está no controle de sua vida: Jesus ou os ídolos deste mundo.
Somente gentileza e generosidade não são suficientes para resolver os problemas da nossa realidade, mas são expressões legítimas e necessárias para atender aos desafios de nosso tempo. Do que o mundo e as pessoas realmente precisam é o amor, não aquele de palavras, mas o que se concretiza em obras e em verdade (1 Jo. 3.18). Amor este que, de mãos dadas com a gentileza e a generosidade, brincam no quintal, voam como pipa lá no alto, mas sem se desligarem das dores e lágrimas dos que sofrem no chão da realidade. Esse amor que brota jorrando no leito do rio, na poeira do sertão e na beira da estrada. Esbanjando riso, distribuindo abraços, emprestando os ouvidos, estendendo sempre a mão, doando gentil e generosamente. Esse amor que quer fazer de nós porta, caminho e ponte – Ponte de Transformação para tudo e todos, para que brilhe a nossa luz diante dos homens, vejam as nossas boas obras e glorifiquem ao nosso Pai (Mt. 5.16).
Notas
[1] O profeta Gentileza: incrivelhistoria.com.br/profeta-gentileza [2] Etimologia da palavra gentileza: origemdapalavra.com.br/palavras/gentileza [3] Etimologia da palavra generosidade: origemdapalavra.com.br/palavras/generoso [4] Segundo a Concordância Bíblica da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), 2010. [5] Cortella fala sobre solidariedade: youtube.com/watch?v=Yt2BLIeKtdE [6] Compromisso da Cidade do Cabo: lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br
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